sexta-feira, 14 de outubro de 2016

(Des)Ilusão

"Tu, frenético e irritado,
Eu, contida e desolada.
Palavras que não são nada,
E que me deixaram neste estado.
Falas de cor o que eu nem sequer sei,
Vestes-me roupa que nunca usei!
Diz-me o que lucras com esta situação!
Julgas ser sempre dono da razão...
Mas não és nenhum príncipe nem rei!
É que me aperta tanto o coração,
Quando o amor acaba em discussão
E dissolve-se numa tremenda desilusão.
Cala-te, senta-te, analisa o teu comportamento
Que evaporou tanto deste sentimento!
Que se eclipsou num único momento,
Sem tento e sem um pingo de lamento.
Tudo o que quero é que te cales e que me olhes,
Como se fosse a primeira vez de tantas mais,
O que me fizeres agora é o que colhes,
Agora, sempre e em tantos dias iguais!
Já chega de simbioses discursais,
Este ambiente mata-nos por dentro,
Não vês que isto já é demais?
Eu assim não penso, não me concentro...
As desculpas evitam-se e não se esquecem
As palavras ficam e não envelhecem,
As mágoas nunca mais desvanecem,
Ficam, corroem, moem, destroem...
Vamos parar o tempo já,
Aproveitar o que a vida nos dá,
Vamos abraçar o verbo amar,
Vamos beijar o verbo perdoar.
Revejo-me na vida que eu tenho e não a conheço,
Toco em momentos lindos e não os sinto...
Fecho os olhos delicadamente e quase que adormeço,
Estou perdida de mim, perdida de amor, e não minto...
Entro num sonho lindo forrado com gestos majestosos,
Todo um cenário cheio de cor, de paz e de amor...
Tudo coberto de ternos momentos gloriosos,
Momentos que agora me proporcionam dor.
Na hora em que me situo na realidade crua
De uma vida penosa e conturbada de tanta paixão,
Em que um amor tão imenso quase que me deixa nua,
Porque, no fundo, toda eu sou coração!
Não tenho corpo, toda eu sou alma e redenção!
Cedo a beijos desalmados e a abraços esquecidos,
Agarro neles como se fossem os meus sentidos!
E são-no, com tanta força e tanta vontade,
Que me enchem o peito de verdade!
Volto atrás no tempo e vejo o arrependimento,
Cravejado de palavras e de um só momento.
Um momento que se desfez na nossa desgraça,
Destes corações partidos em cacos com uma taça!
Estou perante um sentimento que não quero perder,
Por mais ofensas e tantas lamentações,
Ambos sabemos que temos todas as condições,
Para voltar atrás e este amor erguer!
Preciso do teu ar para respirar,
Quero o teu braço para agarrar,
Preciso que me queiras amar,
Quero muito, muito voltar!
Quero mostrar-te o sentido da vida,
Provar os beijos que ficaram perdidos,
Transformar o certo em rebeldia,
Converter sentimentos desmedidos.
Mas só contigo, isto é possível… só contigo consigo lá chegar;
Não preciso de asas nem de aviões de papel, apenas preciso de ti.
Não preciso de dinheiro no bolso nem de pagar para te amar;
Apenas preciso que o teu coração fique aberto para mim.
Ar, água, terra e fogo são elementos da natureza.
Tu és o meu elemento, o elemento que me faz falta.
Nesta canção, mostro-te o amor e a sua pureza.
Contigo por perto o meu coração não pula, mas salta.
Salta porque está a correr velozmente
Para apanhar o teu amor que é tão maravilhoso.
Quero que oiças o meu coração coerentemente
Que não o interrompas ao demonstrar o quanto é valioso!"

Vanessa Cardui
(in Poesias Mais-que-soltas)

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