"Ele era qualquer coisa de extraordinário quando estava comigo... Mas era qualquer coisa de anormal quando não estava. Para mim, havia sempre tempo contado ( se bem que de qualidade), mas sentia o tic-tac do relógio sempre dentro de nós. Havia tesão. Mas também havia tanta pressa! Tanta pressa das coisas que não se passavam naquelas horas em que tudo era fachada, em que tudo se transformava numa máscara blindada de tanta postura que ninguém imaginava! Mas nós imaginávamos bem, e executávamos aquilo a que nos propúnhamos um ao outro.
Era demasiada pica que aquela relação de sexo nos proporcionava; tanta ou tão pouca, que ambos começámos a confundir as coisas. Estúpida e radicalmente. Tudo eram chatices, tudo eram ciúmes. Tudo eram filmes mal realizados na cabeça dele e que, na minha, nem sequer estavam para estrear em breve!
Aprendi, com o tempo e com ele, com o Catorze, que para se ter o melhor sexo de todos os tempos, sempre que nos apetecer, o segredo está em falar (calma, não estamos a falar em estabelecer uma conversa, nem oito, nem oitenta) ; e quando digo falar digo sussurrar, ao ouvido, de uma forma subtil, sem pressas, sem relógios, sem tempo. Na minha perspectiva, de facto ajuda bastante esse requisito para que o sexo seja tão bom para nós quanto para eles. E para ser explosivo, o prazer tem que ser mútuo. E connosco era, era uma cumplicidade sexual de morte, de tão asfixiante de desejo!
Falar como quem pergunta... no acto é só assim que se deve falar, e baixinho e aos sussurros, de preferência. Ou poéticos ou 'hardcores', neste caso preferi sempre a última opção. Tinha gana dele. Porque era mais velho, tesudo, com tudo no sítio, e sacana, a querer ter uma em casa e outra fora de casa. Eu nunca ia ser a última, nem a metade... muito menos os restos!
"Gostas assim? "– A melhor forma de descobrir a forma mais gulosa de fazer sexo é assim, perguntando...
Melhor ainda é quando só o facto de lhes tocarmos, conseguirmos perfeitamente obter quase que como uma radiografia completa da sua aura (todas nos enganamos, é certo, mas temos sempre aquele sexto sentido)!
Enquanto podemos fazer tudo o que nos apetece, desde experimentar a repetir! Mas pairando sempre: "estás a gostar?".Quando é dito devagar, pausada e colocadamente, ao ouvido de um homem, seguido de um beijo bem molhado e bem respirado, naquela zona (qualquer um gosta e fica rendido... atenção! Mas quando é feito em condições de, porque não pensem que é assim de qualquer maneira; pois há que manter sempre a postura)!
Não é preciso ir à universidade para levar um homem à loucura, é certo, mas é precisa alguma arte e, sobretudo, postura. Aquela história de "ser puta na cama" tem muito que se lhe diga no que respeita à parte da postura. De facto é perfeitamente possível sê-lo com postura. Basta postura e acreditem que assim o farão delirar! Chama-se a isto a arte de seduzir e cativar com convicção. Há muitas formas eficazes e ainda mais rápidas do que imaginámos, que efectivamente levam o homem à loucura; todavia, não deixam de ser formas de sedução básicas, de baixo nível, sem postura, à "má fila", com maus ambientes e mentiras piedosas de merda. Existem expressões corporais que nos dizem o que despoleta mais vontade por parte dele, no que diz respeito ao campo íntimo.
O Catorze tocava em todo o lado, mas pausadamente, e tinha medo de me magoar. Notava-se. Era bem maior do que eu (não sendo preciso muito)!
As preferências dele, no meu corpo, eram os peitos, o cu (rabo têm os cães), e a cara...
A única coisa que ele maltratava era o meu cabelo mas tenho a impressão de que até disso ele gostava! Mesmo puxando, puxando sempre até não dar mais!
O perguntar subtil é sempre bom em várias vertentes. Assim também aprendemos a valorizar algumas coisas que nós nem nos lembrávamos que existiam e aproveitamos e aquecemos o ambiente que entretanto pode ter ficado perto de gelado.
Entendimento? Precisão? Acção!
Se soubermos então analisar as partes que mais o encantam, no nosso corpo, sabemos o que havemos de realçar para lhes chamar a atenção. Sabemos perfeitamente. Como se tivéssemos toda a vida inscritas num curso intensivo de como conquistar um homem! Todas nós temos essa resposta dentro de nós! Cada uma tem a sua beleza, os seus trunfos, a sua personalidade! Cada uma de nós é personalizada, logo, independente e reveladora de um auto-conhecimento bestial! As ideias chave e as mais básicas para deixar um homem submisso ( principalmente aqueles que gostam que nós o sejamos, e que merecem mesmo!) estão em modo "refresh", neste momento, e são quase o ensinamento maior que activamos assim que nascemos.
Adoptei um pouco esta estratégia com o Catorze. Fui mesmo assim com o ele. Gostei, mas obviamente que houve o reverso da medalha e por isso não vos aconselho a meterem-se em trapalhadas deste género. Acabam sempre por se foder (a bem ou a mal!). E ele revelou-se um submisso de merda. Parecia um cachorro abandonado quando, na verdade, não passava de um frustrado, de um inadaptado, já com idade suficiente para ter juízo que o podia fazer pensar de outra maneira, mas não. Tinha a mania que era homem mas era um miúdo. Imaturo e pouco credível (na maior parte das coisas). Para mim, e apesar de tudo e tudo e tudo, ele não passava de um "gajo com a mania que é 'playboy' mas que mantém sempre a postura, claro! Essa nunca podia faltar! Engraçado que ao falar dele me lembro sempre desse vocábulo... Que nos finalmentes, passou à descompostura. As coisas mudam de um segundo para o outro. É a chamada vida. Por isso existe o dia, e logo a seguir a noite. E por isso é que o tempo não pára!
Mas eram todas estas dicotomias de sensações que me tiravam do sério, que me davam sede e que ma tiravam logo imediatamente e isso puxava por mim, pelo meu cabelo e por tudo, arrepiava-me da cabeça aos pés! Era isso que me impulsionava sempre a estar com ele, outra vez, e outra, e outra. Na hora em que ele me deixava em casa depois das nossas" judiarias" semanais que tínhamos sempre a ajustar um com o outro, eu dizia sempre a mim mesma: "É a última vez que isto acontece!" .
Mas não. Acontecia sempre, aliás e talvez algumas dezenas de vezes em algumas dezenas de cenários diferentes. Era giro, sempre uma aventura certa e nada monótona, que se o fosse nada se enquadrava comigo. Éramos a junção perfeita, no íntimo.
Houve uma vez que ele me disse ao ouvido: "tens um cu que parece um coração..."
Eu respondi: "Dá -te tesão?"
A resposta foi: "Não imaginas em quantos sítios me dás tesão!"
E apalpava -me, em pleno local de trabalho, com câmaras nalguns pontos, sem rigorosamente nada a perder (pensava ele!). Ele gostava de arriscar em todo o lado. No local de trabalho eu não gostava. E a ele dava-lhe ainda mais vontade! E eu tinha vontades sempre! O que fazer? Arriscava também. E sabia-me bem, ninguém imagina quanto... Só eu... E ele.
Deixei-lhe um bilhete no balcão antes do seu turno começar que dizia assim:
"Dou por mim a saber que tenho montes de coisas para pôr em dia é só penso em ti. Só consigo pensar em ti. Normalmente, consigo fazer até mais do que três coisas ao mesmo tempo. Mas assim não! Pensar assim e tanto desta maneira não dá! O meu pensamento fica ofuscado de ti... e fica leve, solto, quase a parecer uma pena...
Mas não há forma de não te pensar. Seria, de todo, demasiado trágico para a minha vida, agora. Mesmo que não fiques, não vás...
Fica-me no pensamento, ao menos!"
Ele respondeu-me no dia seguinte, com um repentino aparecimento, pela manhã, com um café gelado e um embrulho sexy. Escondi para manter a postura, agradeci envergonhadamente, visto estar no meu local de trabalho, e ele disse: - " Vou treinar agora, passei aqui para te ver! Logo à noite tens aí o teu equipamento! Apanho-te em casa... Até logo..."
Deu-me um beijo no canto da boca e foi. Curiosa, abri o embrulho... Uma lingerie completa, demasiado ousada e abusada. Com certeza! Assim foi! "
Vanessa Cardui
(In "38 homens depois")
Foto : Vanessa Cardui
Foto : Vanessa Cardui
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