"Quando o assunto é sexo e o sexo é para ser dos melhores, senão o melhor, a comunicação é uma grande e privilegiada condicionante para que as coisas se concretizem. Há por aí muitos especialistas em sexualidade que dizem que o facto de um casal se entender e encaixar na intimidade, é meio caminho andado para um bom sexo . E o Catorze surge nesta temática. E o Catorze era isso. Conhecíamo-nos incrivelmente bem, mas apenas e só a nível íntimo. De resto, o que conhecíamos era a amizade que sempre conhecemos. Aspectos normais da vida, conversa de "encher chouriços" muitas das vezes...
Ele sabia que eu não tinha ninguém (para todos os efeitos ele não sabia que o ensaio estava a decorrer...), e que até nem me era conveniente assumir qualquer tipo de relacionamento com alguém, pelo menos não naquele momento. E como era mais velho, consequentemente era também mais paciente (o que se tornava conveniente para ele também!). Ele dizia. Ele acontecia. Ele falava pouco mas muito. Falava demais com aquele olhar safado e pronto para agir, de qualquer maneira, fosse de que forma fosse! Tinha a mania que o mundo girava em torno dele. Disse-lhe bastantes vezes que ele não era "Deus todo - poderoso". E não era. Mas não era por isso que ele deixava de se achar. E queria ser o meu deus; pois queria ser o que não era. O problema dele é que sempre pensou que eu o queria a todo o custo quando, na verdade, não queria. A situação dele não me era, de todo, favorável. ele já era pai. Ele vivia com a mãe da filha e dizia que dormia no sofá todas as noites, e acordava impecável todos os dias, todo grosso, para se meter todos os dias ao meu lado no trabalho. Na altura éramos os dois recepcionistas de um hotel. Não adiantam pormenores. O cenário era este. Tínhamos o mesmo estatuto, a mesma função e a mesma missão um com o outro. E as mesmas vontades. E as mesmas curiosidades. Curiosidades íntimas. Curiosidades que só a nós nos diziam respeito. E nós gostávamos, gostávamos mais que demais. Mesmo que não nos víssemos ou não tivéssemos o mesmo horário, víamo-nos telepaticamente. Visualizávamo-nos extremamente bem sem nos vermos. Cheguei a pensar que era obcecada pelo sexo dele, porque na realidade era só essa a parte que sabia que conhecia, como a palma da minha mão, nele. O resto não. Ele podia estar a falar a sério e a desculpar-se com imprevistos mais que descabidos, mas eu não acreditava em nada; já não acreditava em 'balelas'. Queria acções, porque farta de histórias de encantar andava eu, até ali. Sabem bem que quando uma mulher se interessa a sério por um homem e (pior ainda) se esse homem lhe dá sede; o caso está mal parado. É porque para além do clique, já passa a necessidade, a vontade de querer e fazer por ter. Eis a raça da mulher, que normalmente consegue o que quer de um homem (na maior parte das vezes como é óbvio, havendo, portanto e sempre excepções à regra. Mas não. As coisas não são assim tão lineares, são extremamente complicadas. Aliás, até nem são, nós, mulheres, é que, na maior parte das vezes, não sabemos apenas descomplicar ( torna-se bem mais difícil!). No meio desta coisada toda do ensaio, eu apaixonei-me e, ainda assim, calada, não me resignei à situação. Decidi saltar fora enquanto era tempo, enquanto tinha tempo para ser feliz e com uma relação comum, como a maioria das pessoas têm, sem ser às metades. Não me conformei com a ideia de ter metade de alguém e de ser metade para alguém. Mandámos boas quecas, sim. Foi meio ano de quecas, mas das bem dadas, das que ficam na recordação .
E por incrível que pareça descobri que aquilo que sentia ia aquém da tesão, do desejo carnal, da vontade de apertar com tanta força em que quase que se consegue enfiar dentro de nós, outra pessoa. Éramos assim um com o outro, indomáveis, incontroláveis e miseráveis, porque procurávamos a nossa falta um no outro, quando ele tinha uma suposta mulher e eu, livre e descomprometida, não tinha necessidade para isso. Havia alguns pretendentes com vontade de serem, comigo, mais do que inteiros. E aquele 'playboy' brincava com as minha vontades! Fazia de mim parva, coisa que nunca fui (infelizmente para ele).
Ele era obcecado por mim. E, ainda por cima e por coincidência, éramos praticamente vizinhos. Se ele quisesse podia perfeitamente saber se eu me encontrava em casa ou não, supondo pela falta ou ausência do meu carro no respectivo estacionamento.
Os nossos encontros furtivos de sexo eram completamente divinais, surreiais e bestiais de tão bons!
O nosso sexo era mesmo incrível, funcionava muito bem, era e foi um facto!
(Pormenores do Catorze mais à frente, este deu mais trabalho!)
Vanessa Cardui
(In "38 homens depois")
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