sábado, 31 de dezembro de 2016

Nua de ti

"Despe-me a roupa que já me tiraste
Volta a tirar-ma
Mas desta vez com jeito
Com um vagar que já não temos
Com uma pressa que já em nós se estranhou
Despe-me a roupa e consome-me
Como se me despisses a roupa e a pele
Despe-me num sítio nosso,  inóspito, inimaginável
Faz-me tua supervisora e deixa-me analisar
Não tens ordem de perguntar, só de acatar
Eu dito as regras desta vez tão desejada
E se não te apetece, então faz-te à estrada
Sabes que mais? Não é que eu valha alguma coisa
E anossa história nunca valeu absolutamente nada
Para a história de cada um, de cada vida que temos
Que tanto queremos e que às vezes não vemos
Ai, tanta vontade de me sentir apaixonada
Mas ai, tanta teima em que me tires a roupa
Só por tirar
E a pele também
E trincar
Como quem lambe
E como quem beija
Como quem não fraqueja
E de facto deseja
Uma trinca bem dada
A que parece apaixonada
E que até pode ser
Um dia
Se a trinca quiser
O que eu queria "

Vanessa Cardui
(In "Poesias Vadias")




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