"Verbo' 'Ir'"

"Arranca-te do meu pensamento vil
Desampara-me a alma cansada de ti
Não me sugues mais tempo de memórias
Destrói aquele passado de tanta fachada
Segue a tua vida que eu sigo a minha
Como pude acreditar eu nas tuas histórias?
Para que te vi eu tanto tempo inventado
Para agora nem te querer ver pintado?
Foste perfeito e, no fim, fomos um lixo
Prefiro verdades imperfeitas e duras
Prefiro passados negros e estampados
Prefiro uma vida límpida como água cristalina
Se é só uma, para quê desaproveitá-la assim?
Se é uma pouca vergonha é preferível
A uma postura tão correcta e cheia de enganos
O dia do despejo já foi há muito
Hoje só passou a ser oficial
Assim se trata de uma desilusão
Espremê-la até ao sabugo
Detectar todas as lacunas
Dedicação é fundamental
Concentração crucial
Vontade oriunda da felicidade
Que pode até ser pouca
Mas pode estar ali
Mesmo ali
Que se fodam résteas de sentimentos
Que se apaguem as coisas melhores
Que fique uma extraordinária paz
Junta com molhos de felicidade
Que pode estar ali mesmo ao lado
Abre-te coração
Deixa-me espreitar
Já passou
Eclipsou-se
Olha a felicidade
Pode estar ali ao lado
Mas não tenhas pressa
Tem é pressa de ti
Já,  agora"

Vanessa Cardui
(In "Poesias Vadias")

Foto: Vanessa Cardui