quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Genus

"Concepções tomadas e desperdiçadas
Cabeças perdidas e desprevenidas
Pessoas podres de parvas e egoístas
Narizes em vez de pessoas, desgraças
Sociedade tão forte e tão fraca de vulgar
Sociedade tão normal e só a fazer mal
Fazer o bem é ser diferente
Ser original é ser muito mais gente
Da que a gente que anda por aí e nem sabe
Perante o mundo em que vivo fico atónita
Com tamanhas atrocidades e tamanha desumanidade
Neste mundo há humanos e humanos
Caminhos parecem virtuosos e outros mundanos
E nós por cá andamos sempre ao mesmo passo
Em que temos a vida no nosso refaço
Paralela a tantas outras que não é a nossa
Lamúrias servem para curar uma mossa
Caso disso não vale a pena fazer
O que vale a pena é viver
A vida que é nossa de tão imensa
Transforma hora morta em hora intensa
Prazer que não segue impulsos
Neste mundo púdico e fechado de tudo
Menos na vida dos outros que é o mais interessante
Desperdício de tempo para quem não quer viver
Deitar vida fora como quem tem muito para perder
Seca de pessoas que nem têm com o que se entreter
Senão com a vida dos outros que é onde buscam prazer
Coitadas, não sabem o que é o prazer de viver
O prazer de ser feliz com a nossa vida e com o nosso nariz
Pessoas tão púdicas por fora e tão maldosas por dentro
Pessoas que não sabem o que é realmente viver
Por só o saberem pelos outros, que não devem ser poucos
Se tem ou não a devida capacidade
De viver ou de fingir que vivem por viver..."

Vanessa Cardui
(In "Poesias Vadias")



*Genus = espécie

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