domingo, 12 de março de 2017

(Ver)tentes

"As minhas pernas eram as mesmas de sempre. As mesmas de sempre. Mas tremiam. Tremiam por sentirem as tuas mãos a deambular pela textura e pela sensação extasiante do simples toque no contorno das linhas destas sempre tão confiantes e aventureiras e, desta vez, trémulas, ansiosas por verem as tuas mãos subirem mais ou descerem mais...sem que os caminhos contassem para alguma coisa a não ser o simples facto de mergulhamos  (literalmente) até nós mesmos. A tua mão na minha perna e a tua outra mão na minha nuca, num aperto subtil de quem vai fugir e num fugir apertado em que apetece logo voltar. Um treme-que-treme; uma luz-fusca-que-ofusca; um brilho que luz e dá luz tipo pirilampo numa noite de verão. Foi uma porta que se abriu quando tudo parecia escuro. De repente, a luz veio, o sol brilhou mais do que nunca! O mundo deixou de falar num espaço de nanossegundos mas eu ouvi o que dissemos um ao outro, ali, por telepatia. No fundo e na verdade, só nós falámos, só nós conseguimos falar neste mundo imenso, um com o outro.
Lembro-te com as tuas mãos ocupadas em mim...uma na minha nuca e outra na minha perna.
Não consigo reproduzir o teu toque mas sei a sensação que me provoca e ainda (se fechar os olhos) sou capaz de sentir o teu cheiro e como tal o arrepio que só tu me causaste, até hoje.
As minhas pernas ainda hoje tremem por ti. E se tremem e tremeram e continuam a tremer; é porque  é bom. Estes tremeliques são dos bons, parece-me (aliás, certeza)! Os nossos arrepios também não passam ao lado, nem em nós nem nos lugares onde deixamos um pedaço da nossa felicidade, porque em nós já há tanta que somos nas coisas e nos lugares tudo o que há em nós. Pelas pernas acima,  por mim acima, por todo o lado que em mim habita! E pelo teu. O teu mapa até pode ter os mesmos caminhos que o meu, mas no teu há coordenadas, no meu não... só tens que me guiar..."

Vanessa Cardui
(Excerto de romance)


Foto: Vanessa Cardui 

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