sábado, 3 de junho de 2017

Ensaio I - A Despedida de solteira - Pelo na venta

"Uma prostituta só devia abrir a boca para fazer bicos" - ouviu-se dizer.
De mau tom, tendo em conta que esta afirmação saiu da boca de um dos clientes mais assíduos na casa. Basicamente o mais "com a mania que era culto e bom" e o mais frustrado, em simultâneo. Daquelas pessoas das que se dispensam pouca análise por se acharem, precisamente,  superiores a tudo e todos.
Fui ter com a menina que estava a ser "chingada", sem a própria saber. (Na verdade, todas ali eram "chingadas", ou melhor, rotuladas; logo, desvalorizadas,  sobretudo na qualidade de mulheres).
Fiz-lhe sinal duas vezes para se baixar para lhe dizer algo... só à segunda o percebeu... e convenhamos, só olhou para mim por ser mulher; precisamente por não ser usual ser abordada por uma mulher.
Baixou-se. E eu disse: "mostra quem manda àqueles caramelos! Eles chamaram-te galdéria sem léria!"
Ela piscou o olho e simplesmente continuou o seu espectáculo. No final agradeceu e foi ter com o que parecia ser o líder do grupo. Sentou-se no colo dele. Ele levou a sua mão imediatamente às suas mamas. O estalo dela assentou imensamemte bem na sua fronha. Assentou mesmo bem! Levantou-se e disse:
- se tens mulher, não te venhas entreter com galdérias, ó palhaço!!! Não estás satisfeito com a tua vida,escreve no livro de reclamações de tua casa.
Os homens que ali param esquecem- se do caminho que fizeram muito facilmente, pensam,  por momentos, que cairam logo ali,  naquele antro...que chatice.... até nem estarão a precisar de algo quando ali pousam, quer seja via teletransporte ou com GPS.
Uns vão por fetiche, outros por necessidade e outros ppr desequilíbrios mentais depravados. Há de tudo um pouco, menos a decência das máscaras da elite que se mostram na sociedade. Nada é real, ali. E se ali não é,  na vida real desses, ainda menos!
Considero que algumas das meninas que ali trabalhavam o faziam por necessidade, sim, apesar de mostrarem sérios atributos e aptidões para os table-dances. Mas outras trabalhavam mesmo com prazer; tanto ou tão pouco que era o que elas transpiravam; mais do que sensualidade por todos os poros,  tesão e vontade de sexo. Umas eram contidas e funcionárias; outras eram ousadas, demasiado atrevidas e putas - no verdadeiro sentido lato da palavra.

Vanessa Cardui
(In "38 Homens Depois ")


Foto:Vanessa Cardui / Paulo Nuno Santos 

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