terça-feira, 5 de setembro de 2017

Deesset te amica mea

Tenho saudades do que eu era sabendo-te vivo. Tenho saudades do que me ensinaste só para ter o prazer que mo ensinasses novamente. Tenho saudades só porque sim e só porque não. Tenho saudades de poder procurar-te e de te encontrar. Agora,  por mais que te procure, só te sinto,  em todo o lado, em todo o lado que é meu e em todo o lado que é teu. Até no que não é! Tenho saudades dos teus ensinamentos sábios.  Era menina para fingir que não me lembro de nada só para teres que vir cá abaixo re- ensinar-me. Mas sei que não é viável e já não tenho dezasseis anos, e sim o dobro.
Perdi- te aos trinta. Ainda assim deixaste- me completar os meus trinta anos. Nesse dia tive-te ao meu lado. E no teu último aniversário também estive ao teu lado, curiosamente nesse mesmo ano. E celebrámo-lo juntos, como quem celebra a vida e a família. E destas duas vezes disseste a mesma coisa: "espero estar cá para o ano para voltarmos a festejar". E deste-me a tua mão fria para ta aquecer como sempre o fazias.
A minha resposta foi : "Nunum, não digas coisas parvas. E não eram parvas". Ele disse-o duas vezes. No Natal já cá não esteve ao nosso lado. Eu devia ter acreditado, talvez, mas por esta altura ainda o considerava imortal. Nem sequer ponderva a hipótese de, um dia..
E foi. Um dia foi. No dia a seguir ao me ter despedido e ao ter visto um sorriso ao dizer- lhe: 
"Vou fazer uma tatuagem com a tua assinatura! Amanhã venho ver-te, Nunum  "
E já não o vi a sorrir nem com vida. Já não fui a tempo. Mas ele despediu-se de mim e eu também.  Eu fiquei com o seu anel cativo e com a sua assinatura cravada em mim, mas com ele, parte de mim também foi. Existe, mas também foi. Foi contigo que aprendi o meu maior sorriso. 

Vanessa Cardui

*Deesset te amica mea = saudades tuas meu amor (latim)


Foto:  Vanessa Cardui 

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