terça-feira, 13 de setembro de 2016

Ensaio 1 - "Causa mortis"

"Foram quinze anos de partilhas. De gestos, de emoções, afectos e situações.
Foram uns quinze anos de um namoro muito pacífico e muito pouco atribulado.
Éramos o porto abrigo um do outro. Tínhamo-nos um ao outro e isso era o que mais de importante havia!
Completávamo-nos completamente. É mesmo isso, completavámo-nos completamente. Por isso foi tão fácil darmo-nos bem, por isso foi tão fácil crescemos juntos!
Éramos miúdos quando começámos a namorar. Ele era tudo para mim e, agora, de cabeça gelada e passado um grande tempo, posso admitir isso com toda a convicção, que, de facto, era! Apesar de ter tido um ou dois namoricos antes, este foi de todos o meu primeiro e grande amor. (Já a primeira paixão, é outra história; é favor não juntar amor e paixão, pelo menos por enquanto)
Acho que assim se ama de verdade. Quando se está e se apenas se está. E quando se termina a relação porque se sabe que não vai resultar apesar por parecer tudo perfeito sem que haja mais nada a não ser a perfeição das coisas banais entre amigos e não entre namorados. E nós fingíamos ser perfeito, tanto que até chegámos a acreditar no perfeito que existia só para nós. As coisas tornam-se límpidas demais. O amor dá lugar a um afecto, um carinho e uma necessidade fora do comum. Acreditem, a pior decisão do mundo é deixar ir a pessoa que amamos. A falta que nos faz no início é corrosiva, imensa, gigante de ridícula. Nojenta de angustiante.
Fiquei desesperada, andei desorientada e perdida. Fechei-me em copas, no trabalho e em casa.
Deixei de comer, de dormir, mas sobrevivi.
Nos momentos iniciais julguei mesmo que podia desfalecer de desgosto....
Mas nada no mundo é mais forte do que nós mesmas. Nada, nem ninguém a não sermos nós. Nós somos nós, somos sempre nós.
Superei tal como todas nós somos capazes de superar. Somos mulheres, temos força. Sofrer de amor não é fácil. Mas acreditem que aprender a viver sozinha outra vez, vai ser ainda mais complicado. Por isso despachem-se na primeira fase, porque na segunda já temos que trabalhar muito...
Vamos lá!"
Vanessa Cardui
(In "38 homens depois")

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