"Ainda estive uma noite com ele. Uma noite que pareceu a mais longa de quinze anos. Uma noite que não passou em branco mas que, imediatamente, se apagou.
Fomos tanto um com o outro e deixámo-nos sem nada um do outro. Nem cheiro, nem a força de um abraço, nem a vontade de estar. Tudo passou de uma necessidade extrema, para uma liberdade essencial, a uma solidão mais-que-perfeita que era uma questão (quase) de vida ou de morte.
Foi uma noite intensa. Uma noite de prazeres e de lágrimas escondidas debaixo dos lençóis. Nunca fomos obcecados um pelo outro, sempre nos amámos. Naquela noite decidimos amarmo-nos pela última vez. Revivemos posições, lugares esquisitos. Fizemos o que podíamos ter feito em quinze anos de uma forma compactada. Extremamente compactada. Foi das noites mais felizes da minha vida, mas, em contrapartida, das mais angustiantes e revoltantes. Ambos aceitámos o destino e ambos sabíamos que iríamos sofrer, mas também que nunca ia resultar. Fomos correctos demais. E foi isso que deu cabo de mim, de nós. De dois corações que nada mais têm dentro do que um amor incalculável e um carinho Inimaginável!
Sim, o que mais me custou foi saber que a pessoa que tinha ao meu lado, que julgava ser o homem da minha vida, não era. E a culpa foi dos dois. Acomodámo-nos. Isso é a morte de uma relação.
E só na última noite é que tentámos fazer o que nunca mais tentámos antes. Erro crasso. Ambos sabíamos que, acontecesse o que acontecesse, a decisão estava tomada.
Despedimo-nos com tudo a que tínhamos direito, com toda a pompa e circunstância. Não faltaram carícias daquelas que até deixam mossa. Não faltaram sussurros de paixão assolapada, nem palavras como "amo-te" atiradas ao vento do tempo.
Combinámos, entre línguas e festas repletas de suor, que estaríamos um para o outro sempre, mesmo que mantivéssemos a distância e que a separação fosse oficial. Era certo que acabámos com tudo resolvido e da forma, digamos que, mais civilizada possível. Foi tudo demasiado pacífico. Tudo o que se podia esperar quando duas pessoas tinham, efectivamente, os 'pés na terra'.
Acabar um relacionamento longo parece, mas não é, o fim do mundo. É sim, o início de uma nova viragem na nossa vida.
Esperem coisas razoáveis. Não esperem muito, nem pouco. Esperem sempre um meio termo. Resultados? Depois de pensarem assim colhem os frutos. Comigo resultou.
Cada dia é um dia. Um dia de cada vez. Uma emoção de cada vez, uma sensação de cada vez, um sentimento de cada vez, um misto de coisas, de cada vez. Parece complicado? Nada! Daqui para a frente o coração que vos parece gelado dentro de vocês,vai começar a aquecer... pelo menos, é esse o meu objectivo!"
Vanessa Cardui
(In "38 homens depois")
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