"Tenho saudades. Saudades nossas, dos nossos tempos, das nossas vontades, e do riso (sim, não me venham com merdas de que é o mesmo porque não é, pois ao longo dos tempos gasta-se ou molda-se ao que era. Tão simples quanto isto! O mais simples de sempre.
Tenho saudades dos nossos tempos em que tudo era brincadeira e não se ouvia falar em segundas intenções. Era tudo estupidamente fácil e, à primeira vista, acessível mas, ainda assim, e com o tempo, o fácil dá lugar ao complicado e as coisas complicam-se e re-complicam-se de maneira a perdermo-nos nós mesmas!
As pessoas crescem, uns amadurecem e seguem em belas caminhadas; outros viajam e nunca mais ninguém sabe deles; outros até saem deste país mas, mesmo assim, estão sempre presentes; outros ficam parvos de todo e não há mais quem lhes consiga por a mão; e tantos outros que enfim.
Mas também há os que ficam sempre, os que ficam cá dentro, nada apertados com tanto espaço que nos cativaram as entranhas. Há estes, que são os melhores, que ficam sempre independentemente onde estejam. Há pessoas que nos deixam cicatrizes na alma, cicatrizes bem feitas, cicatrizes quase imperceptíveis, mas que lá estão e que, jamais, e em tempo algum, fizeram quelóide.
Tenho saudades das minhas pessoas e das minhas cicatrizes, todos os dias. E tenho-as. E mesmo que as tenha sempre, hei-de ter sempre saudades, pois mesmo que se matem, entretanto já precisam de ser colmatadas novamente."
Vanessa Cardui
(In "Crónicas (De)Vidas")
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