quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ensaio 1

"À medida que ia executando o ensaio à minha maneira, ia fazendo pausas produtivas. Daquelas pausas que são extremamente necessárias à santidade mental, ao facto de sitar bem os meus pés na na terra. E era apenas disso que se tratava. Por cada testado eu passava a dever tempo a mim mesma. Aquele tempo de compensação que, lá está, era extremamente necessário! Tirei um "ano sabático" para escrever o ensaio. Tinha já tido "N" trabalhos ao longo de toda a minha vida. Entretanto tive direito ao fundo de desemprego durante dois anos, após ter saído de uma empresa um pouco "emblemática" na minha vida, que deixou marcas, irreparáveis ou não, mas deixou.

Nesses dois anos, usufrui de um completamente encostada às boxes. A verdade é que se o Estado nos chula a nós, sem legitimidade alguma, porque nós não nos podemos aproveitar dos nossos direitos, e bem que mereciam ser chulados, mas até nisso têm sorte porque o povo português é maioritariamente trabalhador! No entanto e agora arrependo-me de não ter usufruído de tudo a que tinha direito até ao fim... em vez de trinta e oito provavelmente seriam setenta e seis. Tenho a certeza que com tanto homem o mais saudável seria, sem sombra de dúvida, trabalhar doze horas por dia a aturar tanto homem. Mas convenhamos, é sempre muito mais fácil aturar muitos homens juntos, a muitas mulheres! Considerando-me a mulher dos sete ofícios em que sempre saltei de emprego devido à conformidade com o trabalhar para sobreviver. Já trabalhei muito. Já me esmiufrei a trabalhar. Umas vezes dei-me melhor do que outras. Já disse e volto a repetir: bater com a cabeça nas paredes não faz mal a ninguém, muito pelo contrário, ensina, faz-nos aprender porque a partir dali, já sabemos que na próxima situação ficamos com uma turra (e a segunda fica sempre pior, imaginem só a terceira!)!

Até começar com esta espécie de ensaio, era uma tansa. Todas nós com toda a certeza que já passámos por isso. Isto tudo que partilho convosco entrelinhas, foi um dos meus exercícios para o deixar de ser. E deixei! Passaram a ser os homens, tansos. Os quais eu própria intitulava de "pobres diabos" porque eu já sabia, de antemão, que iam ser uns fantoches nas minhas mãos. Era para isso que eles me iriam servir, apenas e só para estudar... e como é óbvio, divertir-me, juntando o útil ao agradável!

As boas notícias para as que ainda não foram tansas, podem ter a certeza, que no final deste ensaio, saberão não o ser. Assim sendo, já me levam um ponto de vantagem. Não sou medricas. Tenho coisas muito interessantes para contar e isso trar-me-à a maior das vantagens: dar-vos a "minha receita para a felicidade"!


Vanessa Cardui

(In "38 homens depois")

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