terça-feira, 23 de maio de 2017

Coisas descoisadas

"Coisas maquiavélicas que nascem de precipitações
Horas melindrosas que não passam de caras chorosas
Merdas incalculáveis que ninguém  pode racionalizar
Crises de personalidades vincadas e cansadas
Bipolaridades de sentimentos bons que são de verdade
Nóias e paranóias que nem se pensam nem rezam a história
Desde que haja sentimento o resto é tudo memória
A memória pode passar mas a união fica no lugar
Minutos de desvairo sem se perceber o porquê
Tarde de verão que nem com óculos de sol se vê
Montes de areia e patas caninas desconhecidas
Água do mar e água benta para as despedidas
Ares e palavras que saem sem querer
E que mesmo que saiam são para perder
Porque não interessam para nada até ver
O lema da vida é ser feliz e deixar acontecer
Mais tarde podemos aqui não estar para ver
Mais tarde o tempo pode ter expirado
Ó tempo, que ajudas a passar e a esquecer
Mas também tiras o tempo do que é viver
São precisas mais de vinte e quatro horas
Para se dar andamento aos afazeres com demoras
Mentes humanas que são todas humanas e iguais
Umas são falsas e más e outras puras e especiais
Parece que a igualdade é lema e somos desiguais
Há falsos moralistas que dão lições de moral
Há politicamente correctos com ar de genial
Há pessoas sinceras e outras bestas quadradas
Nem forma geométrica precisavam de ter
Neste mundo sem espaço para pessoas vazias
Onde mais vale a esperteza e a má fé das atitudes frias
Onde  se sita a fé nos corações dos crentes e dos que o fingem ser
Não por querer mas por se fazerem querer parececer
Porque fica sempre bem na fotografia
Mesmo que não, parece pura magia
Incapacitados os tristes dos capacitados demais
Que à frente uns dos outros revelam-se ainda mais
Sociedade mascarada o ano inteiro
Gente comprada por dinheiro
Fama por um futilidades
Poucas e tão ocas verdades
Gente metade do inteiro
Gente de merda que se junta discretamente
Mas que outra gente repara por ser transparente
Mundo díspar de ideias e de ideiais
E não, não somos todos iguais
Se fossemos o mundo tombava
Se fossemos o mundo não existia
E sem o mundo que nos agarra
Que sentido a vida nos faria?"

Vanessa Cardui
(In "Poesias Vadias")

Foto: Vanessa Cardui 


Sem comentários:

Enviar um comentário