terça-feira, 9 de maio de 2017

Ensaio I - despedida da parvoeira

"Era a noite da maior parvoeira de sempre. Eu tinha a certeza disso. Limitei-me a esperar de tudo, o que não aconteceu com algumas das convidadas que em algum momento se sentiram constrangidas tendo em conta o seu estatuto e não a sua vontade.
Ela nem sabia bem se era mesmo isso que ela queria:  casar. E se a sua decisão se dignasse à minha opinião o passo a seguir seria para trás e não para frente. Eu entitutalva-me como anti-casamentos e fazia questão de não querer sequer pensar em apanhar um ramo. Para mim, o casamento não passa de um papel. Os votos podem sempre fazer- se a qualquer altura, quer se case ou não. No entanto ela não me ouvia por não me querer ouvir. Tinha legitimidade para isso. Afinal ela era a noiva e o que menos lhe faltava eram minhocas na cabeça a esta altura do campeonato. Decidi compactuar com as cenas todas que envolveriam o seu casamento, nunca deixando de ser eu mesma. O pré, o durante, o pós e whatever. Estaria ali para tudo desde que fosse essa a sua vontade e, de facto, parecia ser. Até àquele dia, sou franca. Pus tudo em dúvida, porque eu própria senti-a na dúvida,  deslumbrada e, em simultâneo, apavorada e desgastada. Afinal já se tratava de um relacionamento severamente longo e as coisas tendem a complicar- se quando um ou outro não tem "tomates" suficientes para acabar com tudo de uma vez por todas, a ponto de avançar com tudo, de uma vez por todas.
Estranho mas típico, isto é, na grande maioria das cabecinhas femininas que se vêem por aí. Seguem a tradição porque parece bem ou por parecer que vai resolver algum problema. Enfim. Só o que tenho a dizer. Mas depois há o divórcio. Há sempre o divórcio quando os "tomates" já não aguentam mais de tão apertados  ( de ambas as partes, óbvio! )
As coisas nascem das vontades e dos prazeres que temos aquando momentos. Expectativas de criança que nos ficam lacradas como se-fosse-uma-coisa-que-tivéssemos- mesmo- que-fazer: casar e ter filhos.
"Nem tudo o que parece é", "nem tudo o que luz é ouro", digo sem falsos rodeios nem ideias mirambulantes.
Ela queria casar, fixe, eu apoiei. Incondicionalmente. E não podia ser de outra maneira. Éramos como se fossemos irmãs de sangue, só não tínhamos os mesmos objectivos e...cada um é como é.
A despedida de solteira da melhor minha melhor amiga, das gajas mais esgalhadas que já conheci mas,em simultâneo,  das mais benéficas e mais puras em toda a minha vida. E eu gostava dela assim e ela de mim assim. A felicidade de uma era a da outra e vice- versa.
- Caralho, miúda! Vais ter a melhor despedida de solteira de sempre!
- Já fizeste merda!
Rimos e já sabíamos.
E foi basicamente isso que aconteceu que entretanto conto mais pormenorizadamente. "

Vanessa Cardui
(In "38 homens depois ")


Foto: Vanessa Cardui 

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