terça-feira, 9 de maio de 2017

Tique-taque

"Noites demoradas e tão aconchegadas
A minha cabeça adormecida no teu ombro descansado
Horas com som de tiques de nós e taques de segundos
Uma criação de uma história da qual não pode haver memória
Por ser tão nossa, tão una e com sabor de vitória
De vida desmedida, louca e jamais vencida
Dádiva de nós que só connosco nos unimos
Em nós de nós, nós atados e dos que construímos
Nós que mesmo esventrados de nós vivem tanto cá dentro
E estão ali, e permanecem, e não fogem por um único momento
Estão ali impávidos como  quem habita o mesmo espaço a vida inteira
Estão ali sem pedir mas com a máxima autorização
Estão ali gratuitamente que nem um milhão paga
Ficam ali com pouco ou com muito espaço e tão subtilmente
Ficam ali connosco, dentro de nós por dentro e por fora
Não há nada que se consiga a fundo sem demora
Não há nada que se consiga assim pela vida fora
Vidas que se unem aqui e acolá sem quê nem para quê
Vidas paralelas às nossas que fazem do prazer um desprazer
Nós que somos tanto por tão pouco e somos muito mais sem fazer
Nós que vamos e ficamos mas sempre juntos para o que der e vier
Nós que vamos para onde a brisa nos leva e nos quer levar
Nós que sentimos o cheiro do mar e nos arrepiamos juntos e abraçados
Nós que contemplamos o pôr-do-sol como se fosse sempre o primeiro
Nós que fazemos da areia o cenário perfeito para um chão assente
Tu e eu, que pisamos tão bem a terra juntos, de mão dada
Tu e eu que gostamos de tudo numa sintonia mais que presente
Nós que somos um oceano de alma completamente vidrada
Vidrada na tua e na nossa esperança
Vidrada na tua e na minha lembrança
Não da história que mais tarde isto amansa
É verdadeiro , tudo dito espontânea e genuinamente
Nós e um cordão umbilical numa placenta que nasceu da nossa união
A verdade é que tu e eu não passamos sem dar a mão..
..Um ao outro "

Vanessa Cardui
(In "Poesias (De)Vidas ")


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