domingo, 12 de fevereiro de 2017

Gloria alas

"Tu disseste-me que o teu nome derivava do holandês, da palavra 'ester' que significa na asa de uma borboleta. A partir desse dia comeceia a arrotar borboletas, a fazer criação de borboletas,  borboletas no estômago, no coração, em todos os meus órgãos vitais, enfim, um absurdo da alma, um absurdo que me fez extraordinariamente bem!
 No final do meu ofício de todos os dias, tenho energia para moldar borboletas para que, muitas juntas, possam transformar-se num mundo de borboletas, só para ti...de mim para ti, com tudo o que tenho em mim para tudo o que há em ti que é muito mais do que eu alguma vez fui!
 Comecei, portanto, a ver a vida como se estivesse a usar as asas de uma borboleta, em que a liberdade é o mais importante...mas em liberdade não consigo estar refém da tua beleza que não me faz só pensar em borboletas, mas em fadas, daquelas que, mesmo cheias de roupa, nos ofuscam o olhar com as suas curvas.
Foi só um único abraço que me deste, já passou tanto tempo e ainda consigo sentir o seu cheiro a alecrim, a tudo o que é Natureza. Não sei se com o teu dom de borboleta ou não, mas o que é certo é que consigo ver-te todos os dias sempre que me olho ao espelho, porque me lembro imediatamente de ti, e de uma borboleta, aquela que és tu, que sempre serás tu...
Todos os dias recordo aquela bela e serena manhã de sol radiante em que o teu olhar e o meu se fundiram e, pouco tempo depois, perderam-se um do outro, para sempre ou não, mas nas asas de uma borboleta.
Mesmo sem nunca te ter tido, tudo se transformou após te ter perdido. A nossa distância causou-me uma dor inimaginável, passou a ser bem maior do que o ar e desencontrámo-nos da mesma forma que o sol se desencontra da lua. Deixámos de ser um céu repleto de elementos e fiquei só eu, com as tuas heranças de borboleta. Abdiquei da minha alma e deixei que ela fosse consumida pela tua, assim, desta forma, anónima e fervorosa, mas sempre, sempre nas asas de uma borboleta para uma outra borboleta que és tu, a mais bonita, a mais livre de todas, a única que me convenceu de que se as asas existem são para voar...”

Vanessa Cardui
(In "Crónicas (De)Vidas ")

*gloria alas = asas de borboleta


Foto: Vanessa Cardui



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