sábado, 7 de outubro de 2017

Passear contigo

Hoje peguei no teu carro. Hoje peguei no teu carro e fugi dali, contigo, ao lado, assim eu me senti.
Hoje tive a coragem que ainda não tinha tido desde que partiste. Orgulhei-me de mim... e fi-lo, tenho a certeza, por te ter ao meu lado. Deste-me força. Falei contigo a viagem toda e nem tão pouco liguei o rádio para , de certo modo, poder ouvir-te melhor. Ouvi-te à minha maneira e certamente que também me ouviste a mim. Cada palavra, cada escapadela à sinalização da via de rodagem, cada asneira que me saía tal qual "síndrome de tourette" com aquela ainda revolta de te ter perdido. Cada mudança engatada era a esperança de poder senrir-te mais un pouco. Eram poucas as curvas mas a recta  compensa sempre o facto de te ter ao meu lado.
O teu carro continua como o deixaste. Sem tirar nem pôr, até os últimos trocos que deixaste na consola da última vez que foste ao supermercado.
Tudo intacto. O teu nome,  a tua letra, o volante que tu guiavas, o teu clube e os que julgavas os teus anjos protectores ao passo que eu julgo que o meu és tu. Em nada toquei. Guiei o mesmo volante que guiavas e em que ao teu colo, sentada, me ensinavas a conduzir que, em tempos, guiei também  (à minha maneira pois quem chegava aos pedais eras tu.... e lá está,  eram sobretudo rectas e eram tudo menos monótonas, só por nos termos um ao outro... e assim o foi hoje,  quando guiei o teu carro.)
O teu carro passeia comigo por uns dias e assim, consigo ter- te sempre um bocadinho mais perto.
A tua vida entrelaçada na minha e os dois, na mesma direcção. Encontramo-nos no pôr-do-sol.

Vanessa Cardui
(In "Ao Nunum")

Foto:  Vanessa Cardui 

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